Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















domingo, 6 de setembro de 2015

Dia 4, Ponte de Lima a Valença, 38 km em silêncio.

   7 para as 7 alguém decide pelos 18 do quarto e atreve-se a acender a luz, escusado será dizer que a partir daí ninguém dorme. Luisa pede-me um favor que aceito sem pensar, de a acompanhar nos primeiros kms mas sem falarmos, apenas tinha que tomar o pequeno almoço e seguir, partilho o pouco que havia. 
   Á saída da porta um sol radiante é uma salva de foguetes fizeram-me sentir não apenas abençoado mas também gente importante, seguimos por uma rua que no fundo tinha um nobre portão que guardava uma propriedade de muro baixo. 


  Desde dai seguimos sempre a cota de um rio mas este não corria em plano, subia íngreme pela serra acima. Chegando á povoação de Arcos, talvez por ser fim de semana, ouvia-se dos alto-falantes de uma igreja uma barulhente e distorcida música "pimba".  Paro para umas carcassas e queijo, bananas e permiti-me comprar um bolo no café,  pela primeira vez falei com o senhor do café, desde que começamos que eu e Luisa tínhamos por acordo não falar, apenas ficar em presença.

   A montanha ia a meio e tínhamos que a vencer, dai para a frente o trilho inclinava de tal forma que tínhamos que usar as pedras como degraus, planos inclinados á meia esquadria que quase poderiam ser escalados de 4. Chegamos á conhecida cruz de pedra para a qual eu trazia uma castanha que encontrei quando vinha com Alberto faz dois dias como oferta, deixei-a e seguimos. 




   Chegando ao topo todo o contemplamos à vista como prêmio é quebro o silêncio, convido Luisa a lanchar. Aí estavam um grupo de brasileiros, chegaram outros 3 americanos e 3 eslovacos, no fim do lanche despeço-me de surpresa de Luisa e digo-lhe que está entregue á montanha e peço-lhe que prometa que fica no albergue seguinte em Rubiães uma vez que ela tinha desmaiado no dia anterior, sigo o meu passo largo pois ficarei 19 km depois de Luisa. 




   Os 30 graus previstos faziam presença mas o caminho foi feito sem qualquer percalço, talvez por ter iniciado o dia um pouco abaixo do meu ritmo, a estrada era uma antiga romana, recheadas de fontes e tanques de lavar roupa e capelas, isoladas e quase sem trânsito haviam mais peregrinos que carros até chegar a Valença, onde antes do albergue páro noutro super para ter comida para o jantar, que teria que compensar o falso almoço. Pela noite decido ir dar uma volta pelas muralhas e fico com pena não ter vindo durante as horas de sol, terei oportunidade de voltar a passas nesta encantada cidade muralhada amanhã quando iniciar a marcha. 



um abraço peregrino, Samuel Santos.
  

1 comentário:

  1. Grata pelos kms deste caminho que partilhamos em silêncio.
    "O silêncio permitiu que os nossos corações se aproximassem e se conhecessem melhor."
    Paulo Coelho em "Na Margem do Rio Piedra eu sentei e Chorei"

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