Á saída da porta um sol radiante é uma salva de foguetes fizeram-me sentir não apenas abençoado mas também gente importante, seguimos por uma rua que no fundo tinha um nobre portão que guardava uma propriedade de muro baixo.
Desde dai seguimos sempre a cota de um rio mas este não corria em plano, subia íngreme pela serra acima. Chegando á povoação de Arcos, talvez por ser fim de semana, ouvia-se dos alto-falantes de uma igreja uma barulhente e distorcida música "pimba". Paro para umas carcassas e queijo, bananas e permiti-me comprar um bolo no café, pela primeira vez falei com o senhor do café, desde que começamos que eu e Luisa tínhamos por acordo não falar, apenas ficar em presença.
A montanha ia a meio e tínhamos que a vencer, dai para a frente o trilho inclinava de tal forma que tínhamos que usar as pedras como degraus, planos inclinados á meia esquadria que quase poderiam ser escalados de 4. Chegamos á conhecida cruz de pedra para a qual eu trazia uma castanha que encontrei quando vinha com Alberto faz dois dias como oferta, deixei-a e seguimos.
Chegando ao topo todo o contemplamos à vista como prêmio é quebro o silêncio, convido Luisa a lanchar. Aí estavam um grupo de brasileiros, chegaram outros 3 americanos e 3 eslovacos, no fim do lanche despeço-me de surpresa de Luisa e digo-lhe que está entregue á montanha e peço-lhe que prometa que fica no albergue seguinte em Rubiães uma vez que ela tinha desmaiado no dia anterior, sigo o meu passo largo pois ficarei 19 km depois de Luisa.
Os 30 graus previstos faziam presença mas o caminho foi feito sem qualquer percalço, talvez por ter iniciado o dia um pouco abaixo do meu ritmo, a estrada era uma antiga romana, recheadas de fontes e tanques de lavar roupa e capelas, isoladas e quase sem trânsito haviam mais peregrinos que carros até chegar a Valença, onde antes do albergue páro noutro super para ter comida para o jantar, que teria que compensar o falso almoço. Pela noite decido ir dar uma volta pelas muralhas e fico com pena não ter vindo durante as horas de sol, terei oportunidade de voltar a passas nesta encantada cidade muralhada amanhã quando iniciar a marcha.
um abraço peregrino, Samuel Santos.
Grata pelos kms deste caminho que partilhamos em silêncio.
ResponderEliminar"O silêncio permitiu que os nossos corações se aproximassem e se conhecessem melhor."
Paulo Coelho em "Na Margem do Rio Piedra eu sentei e Chorei"