Acordei cedo, com tanta gente pelo caminho queria ir cedo buscar a Compostela, para quem não sabe é o diploma de peregrino.
Quando já cheguei apenas tinha duas pessoas à minha frente, perguntei a que horas era a missa do peregrino e ao contrário do que pensava havia uma às 10.
Antes fui dar o abraço ao peregrino e mais uma vez a fila era diminuta, passei também pelo túmulo do apóstolo e a missa foi pouco depois.
No final fui-me sentar de novo no centro da praça e a minha segunda alma não parava de me chamar a atenção, tinha tentado abafar aquilo que me queria dizer no dia antes mas agora com todos os rituais cumpridos queria mais uma vez que eu fizesse contas... E tantas vezes tinha feito as contas no dia anterior que voltei a fazê-las com a agenda do telemóvel, eram 11.30h e tinha 4 dias e meio para fazer 700 kms!
Pensei, pensei, pensei... os sinais eram óbvios, se tudo tinha sido tão rápido era porque eu também tinha que sair rápido e assim foi, decidi ir buscar a bike para seguir para Muxia e Finisterra.Liguei a Genis para se encontrar comigo na Praça do Obradoiro para me despedir e segui.
A tarefa não era fácil mas os fins justificavam os meios, para além disso sentia que chegar a casa no feriado 1 de Novembro para estar com a família seria um prémio pelo qual teria que suar e sofrer, mesmo assim estava disposto a fazê-lo.Pela estrada o tempo foi abrindo do nevoeiro que estava em Santiago e a paisagem alterou,as caras, as falas e os cheiros não me eram estranhos como estivesse no nosso Portugal.
Estava na Galiza e ao contrário daquilo que se diz que é impossível fazer o caminho sem chuva certo é que não me tinha molhado por aqui.
Ao fim de 75 kms chego a Muxia, uma aldeia piscatória onde busquei o segundo diploma e visitei o Santuário de Nossa Senhora onde reza a história apareceu ao apóstolo numa barca de pedra que frente à igreja ainda permanece, a pedra de abalar.
Mais uma olhada para o lindíssimo panorama de mas e vila no miradouro com a vila de um lado e o mar do outro e volto à estrada, queria dormir em Finisterra.
Até ao destino eram mais 35 kms em estradas que passavam em aldeias, secadores de milho, tratores velhos, pequenos campos de lavouro, sentia-me em casa.
O pneu que me tinha dado problemas no dia anterior estava de novo a dar sinal, o pequeno rasgo que tinha estava de novo a querer deixar sair a câmara de ar e se não parasse para meter um pedaço de plástico por dentro iria furar de novo.
Olhava para o relógio e para o céu, parecia que o por do sol não era para hoje não por falta de tempo mas pelas nuvens que se viam a oeste e decidi visitar o sítio pela manhã ao contrário da última vez que por aqui passei.
Cheguei ao albergue e garanti a estadia, não esgotou mas pouco faltou e pensei em usar a cozinha completa para fazer algo quente para variar.Fui às compras e massa com coxas de frango foi o escolhido, saiu bem e foi admirado por quem passava embora desta vez não tivesse clientes para comer, melhor que assim sobrou para o dia seguinte. Tinha o diário atrasado e tentei compensar um pouco, quanto mais se atrasa pior se escreve, mas mesmo assim ainda deu para pelo meio da escrita ir dar uma volta para ouvir e sentir um pouco do mar...
Um abraço amigo, Samuel Santos!
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