Quando despertei estava convencido que alguém estava a tomar banho mas logo achei muito estranho pois isso pela manhã não era normal.Como segunda hipótese, a chuva prevista para este dia e quando espreitei pela janela pensei logo, vai ser duro regressar a casa...
Preparei tudo com sacos para que nada se molhasse e meti-me debaixo de água até ao cabo de Finisterra.Aqui sim o fim do caminho, fim do mundo no tempo romano onde para eles no seu império não conseguiam andar mais longe em direcção do sol, simplesmente acabava a terra e começava o mar.
O tempo era de tormenta alguma chuva, o mar estava calmo e todo aquele sítio era mágico.No albergue o aviso era claro para não queimar nada no farol como manda a tradição de queimar as botas, ouve um incêndio aqui por causa disso e até o monumento construído para a queima estava alterado para que não o fizessem, mas o problema foi alguém como muitos que queiraram no meio das rochas e provocou um incêndio que queimou uma grande área em torno do farol.
Também havia no albergue uma notícia que dizia "jovens arriscam a vida subindo a torre", existe uma antena metálica que estava cheia de botas, t-shirts, meias... tudo aquilo que se podia deixar aí como oferenda usada e gasta pelo caminho, essa antena tinha sido limpa e agora nada tinha.
O sentimento aí é forte, para além de um lugar temático a vista é linda, quase mar a 360 graus e com a tempestade que por aqui passava eu vibrava de emoções!Depois de muitas fotos pela chuva segui, e desde cedo que tinha que parar por tudo e por nada, afinar os travões, tirar os impermeáveis, tirar a luz para sinalizar a traseira... enfim por precaução parava constantemente.
Mas até aí tudo bem, 10 km depois o pneu que tanto trabalho tinha dado no dia anterior estava em baixo e eu a pensas que era o rasgo de novo... mas não, estava mesmo com um arame a fura-lo e com tanto furo já não havia líquido anti-furo para o tapar.
Remendei-o e segui debaixo de chuvadas que vinham umas após outras.
Tive que almoçar numa paragem de autocarro que estava de costas ao vento pois mais sítio nenhum se podia parar, pouco depois mais chuva... enfim já estava mais que mentalizado que seria o dia assim.Segui e em Negreira na mesma praça parei para ligar aos Javi de Bilbao e mandar uma mensagem a Maxim e Julien dizendo que não passaria por Santiago, havia uma estrada que atalhava uns 20 km e eu já estava atrasado... mal começei a andar o pneu de novo...Dei-lhe um jeito mas na estrada que apanhei havia um troço a descer com buracos e o pequeno rasgo tornou-se maior...
Toca de desmontar tudo de novo e trocar os pneus de traz para a frente para ver se com menos pressão aguentava.
Quando cheguei a Padron vi uma loja de bikes e pensei que talvez aguentasse, mas outro furo fez-me voltar atrás e comprar um pneu de estrada 1.5 para rolar bem e também comprei remendos.
Segui ate Caldas de Reis e com tanto tempo gasto por problemas fiquei por aqui mas o tempo que perdi tinha sido bastante, tanto que apenas fiz 110 kms e o objectivo de Pontevedra ficou a 25. Parei já quase era noite pensando que no dia seguinte teria que compensar aquilo que ficou por fazer.Finalmente aqui podia falar português, haviam peregrinos e também a hospedeira galega também entendia. Gosto muito da fala dos galegos é como se fosse um nortenho mas com algumas palavras em espanhol, engraçado mesmo.Depois de uma massagem às pernas para aguentarem mais um dia, deitei-me a repousar.
Um abraço peregrino, Samuel Santos!
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