Mais do mesmo quando acordei, chuva...Voltei a equipar tudo com sacos de plástico e fiz-me ao tempo, hoje pedi a Deus que pelo menos que não tivesse tantos problemas como no dia anterior.
Ao sair reparei mais uma vez que o albergue estava decorado com papéis em forma de abóboras e que aqui também se celebrava o Haloween.Embora eu me sentisse bem a bicicleta não ganhava velocidade, o vento hoje não podia estar mais de frente do que estava... e cada vez que começava a chover até custa lembrar, a bicicleta parava até mesmo nas descidas.
O esforço era tremendo, o meu medo era de me esgotar e não conseguir chegar na segunda-feira como tinha pensado, e muitas vezes me passou pela cabeça que teria que desistir.Demorei hora e meia a fazer os 25 km até Pontevedra e aí tive que tomar outro pequeno-almoço numa entrada de um prédio, não queria que me faltassem as forças e agora mais que no resto da viagem estava literalmente a deglutir comida e a converter calorias em kms, caso contrário vou-me mesmo abaixo.
Mais 20 kms e já eram meio-dia, pensei novamente que teria que desistir, as rajadas eram fortíssimas e ao que parece era em toda a costa atlântica, decidi parar para comprar pão e coc.-cola, acabei por almoçar num coreto de um jardim em Redondela.
Quando saí vi uma placa, Portugal a 35 km e isto parecia uma eternidade uma vez que eu apenas tinha 45 mas o tempo aqui deu algumas tréguas, o vento diminuiu um pouco e virou 45 graus a oeste deixando de estar tão de frente. Pouco a pouco lá fui insistindo tentando compensar em tempo a velocidade que não conseguia atingir.
Do mal o menos, a bicicleta estava de novo sem sinais de problemas, mesmo debaixo desta verdadeira tempestade tropical.Chego a um sítio onde a estrada nacional te transforma em auto-estrada, procurei com atenção e vi que não haviam sinais de proibição a bicicletas.Como não haviam alternativas para fazer, acabei por entrar e fazer os 10 kms que faltavam até à fronteira.
Aqui tinha que ter bastante cuidado, embora a berma fosse larga os carros passavam muito rápido e não queria ser colhido por nenhum. Finalmente com a fortaleza de Valença do outro lado do rio minho, passei a ponte desenhada por Eifel e aproveitei o facto de já ter rede nacional para dar a notícia à família que já tinha chegado ao nosso País.
Viro direção a oeste para descer pelas margens do rio Minho até Caminha, mas aqui o vento já tinha virado novamente para oeste e novamente iria estar de frente por outros 20 kms.Tal como tinha dito a alguns amigos meus que vinham a Portugal, assim que vi um super que vendia frango assado parei para comprar, he he que saudades, foi em Vila Nova de Cerveira e ao sair pensei vou até Caminha e lá como.
Ao chegar começei a procurar um local e teria que ser rápido pois estava a ver mais uma chuvada a aproximar-se, aproveitei um alpendre de um edifício dos correios mas só ao chegar reparei que estavam lá 2 bikes que pareciam ser de Maxim e Julien... eram um casal jovem Belga, Adrien e Sophie que com eles falei enquanto rasgava partes do frango acompanhado com são, bem vontade tinha!
Caiu uma tempestade de água, mesmo daquelas que até as estradas se tornam rios e enquanto esperávamos que passasse trocamos mail e moradas para que os receba em minha casa caso aceitassem o convite que lhes tinha feito.
Mais 50 kms tinha eu para fazer, dizia, e assim foi, segui e voltando novamente para sul o vento já não fazia tanto travão na bike e pouco a pouco já fui até Viana do Castelo e Esposende onde nos Bombeiros procurei dormida.
Durante a preparação do jantar aproveitei para fazer a mais para o dia seguinte e no compartimento das sobras comunitárias estavam várias coisas... um casal não reparou no pequeno letreiro e arrumou lá tudo como se não houvesse mais ninguém...Passado uns tempos entram eles a dizer que cheirava bem, era a pasta à carbonara que eles já tinham deixado... pedi desculpas e que lhes pagaria a embalagem se eles quisessem mas acabaram por não aceitar e a dizerem que eles próprios é que não tinham reparado na mensagem. Na sala de estar falava-se português, a televisão dava bola e política e pouco a pouco ia-me sentindo no meu país.
Um abraço peregrino, Samuel Santos!
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