Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dia 47. Pedalar de sol a sol numa tempestade parte 2… vento a favor!!!

Domingo, 31 de Outubro de 2010.


Nesta noite não barulho no quarto, já tinha saudades de estar sozinho como antes de entrar em Espanha estava maior parte dos dias.

A camarata estava apenas ocupada por mim e teve que ser o despertador a tocar para eu acordar, hoje, por coincidência da data da mudança de horário estava a acordar cedíssimo comparando com a hora portuguesa, com a hora de diferença de Espanha Portugal e a da mudança de horário eu estava com 2 horas de diferença com o mesmo período de sol que estava habituado.

Eram horas novas 6:30 da manha e o pequeno-almoço apenas era servido às 8:30, olhei pela janela e pensei, o vento hoje continua forte mas tenho um pressentimento que virou a meu favor, se no dia anterior estava sul de manha e oeste pela tarde com sorte viraria a norte e assim teria um dia de nortada, o termo utilizado para definir o habitual vento da nossa costa.

Fui á rua e sim, iupiii, estava norte o que iria dar uma grande ajuda durante o dia e pensei que tinha que aproveitar as horas de sol para fazer o máximo de kms em direcção ao destino.



Tal como me tinha dito no dia anterior, o responsável do albergue disponibilizou-se para me dispensar o pequeno-almoço, e tenho que aqui redobrar os agradecimentos ao Sr. Gaspar pois com a sua amabilidade e trabalho pude tomar um bom pequeno-almoço e ainda me ofereceu pão para comer pelo caminho.

Com tudo isto saí do albergue uma hora antes da hora anunciada para o pequeno-almoço.

Mas o dia era de uma negra tempestade, com tudo protegido com sacos de plástico mesmo dentro dos alforges que tinham protecção para a água, e eu com a capa plástica do costume meti-me ao caminho para fazer mais um dia, e este prometia fazer de mim um verdadeiro papa-léguas.

E juntou-se a facilidade de rolar com a vontade de fazer kms, pensei que iria aproveitar ao máximo este dia pois com vento a empurrar conseguia com facilidade andar a 30 km/h a direito.

O Porto que estava a 50 km de distância aproximava-se a uma velocidade estonteante comparando com o dia anterior, até mesmo nas subidas, puxava um pouco mais e fazia-as a 25 km/h descansando nas baixadas.

Pouco via nas laterais mas pela N13 as vilas que se vão cruzando fazem lembrar o Roberto Leal naquela musica um pouco folclórica “Pelos caminhos de Portugal”, são realmente nossas e muito tem de espírito para além da beleza. São igrejas forradas a azulejo em tons de azul, os telhados com beirado tão nosso, as casas com pequenos jardins e á direita como que um bem adquirido o Atlântico completamente em revolta.



Passo por um ciclista e digo-lhe “força”, passado uns 2 kms ao entrar para uma rotunda vi que vinha calado na minha roda mas sinceramente não o ajudava tanto como o vento me ajudava a mim, falei com ele e disse-lhe para ter cuidado a andar naquela direcção caso contrario ainda tinha que apanhar o comboio de volta para casa, he he, ele para mim a perguntar, “você é atleta e leva ai pesos nos sacos de lado para treinar???” he he, piadas, foi um colega por uns 10 minutos de conversa!!!

Antes do Porto, uns 5 kms caí mais um monumental peso de agua e como estava a passar debaixo de um viaduto deixei-me ficar por ai um pouco a comer algo, o dia estava mesmo feito mas a vontade de andar era tanta que nuns vídeos que gravei a meter conversa com uns funcionários da câmara que tentavam arranjar algo e deviam ter pensado que eu não devia de estar muito bem da cabeça… eram as vontades de chegar a casa.

Sigo para a Torre dos Clérigos para carimbar como ponto de passagem o Porto, a ultimas vezes que cá vim o homem conheceu-me e fiz questão de parar mas não era ele que estava desta vez, era sim uma senhora que quando lhe pedi para carimbar a credencial ela perguntou-me para quando era como se uma credencial do medico fosse… enfim, nisto também havia muita confusão pois o alarme estava a soar talvez por causa da trovoada.

Desço á zona ribeirinha e atravesso a histórica ponte “Dom Luís”, do lado de Gaia aprecio as entradas para as caves e no rio os barcos típicos do Douro.



Sigo a jusante até á foz e o cenário era assustador, as ondas quebravam nos morros fazendo géisers de alturas enormes de branca espuma que se ia acumulando formando uma enorme faixa junto ao areal em todo o comprimento da praia.

Já por aqui tinha passado e sabia que havia uma rede de comboio aqui, tinha que encontrar uma estação para almoçar ao abrigo do tempo e encontrei-a na Praia da Aguda com um painel de mosaico que me fez lembrar a estação de comboios de Aveiro, terra para onde segui após terminar.



Pela estrada N109 reparo que tudo me parecia familiar, a estética, o ordenamento, as igrejas… parece que a estrada tem vida própria e que influencia tudo aquilo que está ao seu redor pois de Espinho a Monte Real muitas são as povoações com os mesmos traços.

Mais uma paragem em Mira e á conversa com uns idosos que estavam a desfrutar do feriado aprendi que naquela zona á muitos anos chamavam burras às bicicletas pois quem as consertava eram os burreiros, foram apenas 15 minutos para descansar e almoçar pela 2ª vez, aqui era o meu objectivo do dia mas como tinha tempo e forças para chegar á Figueira da Foz continuei.



Liguei ao meu amigo Rui para lhe dizer que já estava por perto e pensei “será que depois de chegar á Figueira tenho forças para ir até Leiria…”, perguntei-lhe se me dava estadia e ele respondeu que sim e sinceramente dele não esperava outra resposta a não ser que estivesse ocupado.



Cheguei á Figueira da Foz e apenas tinha mais uma hora de sol, e 45 km mais até Leiria em cima dos 195 que já tinha… isto era uma loucura mas o esforço neste dia iria aliviar em muito o dia seguinte e segui.



Foram mais 2 horas mas valeu a pena o sacrifício, já me sentia em casa com amigos, já a falava da viagem em tom de recordação e ainda nem a tinha terminado, mesmo com o cansaço dos 240 kms que tinha feito estava muito feliz por estar tão perto de cumprir o objectivo. Quanto ao vento, alem de o perdoar ainda lhe agradeci a ajuda que neste dia me deu, só assim foi possível fazer uma maratona destas que durou mais de 9 horas sentado no selim da bicicleta.


Comemos, contamos histórias e combinamos no dia seguinte fazer a tirada final até Fátima e depois Alcobaça.



Um abraço amigo, Samuel Santos

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