Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















sábado, 30 de outubro de 2010

Dia 41. Porto da cruz de ferro.

Segunda, 25 de Outubro de 2010.


 
Acordo no terceiro andar do estranho beliche e começo a fazer contas de cabeça, se fizesse assim, e depois da outra maneira... estaria em casa para o feriado 1 de Novembro daqui a uma semana... e sim era possível mas começaria a corrida e tinha que esquecer Finisterra e Muxia... nem pensar, eu estou adiantado e não estou lá porque não quero, posso sempre apanhar o autocarro e isso não quero pois quero fazer esta viagem até ao fim. Desço da cama e depois de tomar o pequeno-almoço despeço-me destes especiais amigos pois eles não podem fazer o caminho fora de estrada.



Sigo só e reparo que no azul do céu a lua volta-me a fazer companhia pela manhã, para além disso o vento hoje em modo de desculpa sopra na direcção para onde vou. Passado 2 horas ao chegar a Astorga quando o caminho se junta com a nacional lá iam eles os 2, he he, mais uma dose de riso! Dei uma visita à cidade com eles e fomos às comprar, eles para almoçarem logo e eu para depois pois queria fazer 50 km antes de almoço.



Aqui vimos por fora mais uma imponente catedral que tal com em Pamplona tinha sido convertida em museu e tambem reparei num palacio construido pelo traço do famoso arquitecto Catalão Gaudi.






Mais uma despedida e segui, aqui o cenário muda imenso, o caminho segue numa pequena estrada passando campos que deixam de ser planos, e a vegetação pouco a pouco vai mudando até fazer lembrar o Alentejo na zona de Portalegre, com sobreiros e a uma montanha na frente, o traçado era uma enorme recta que ia ganhando altitude de forma muito tímida, peregrinos aqui era coisa que não faltava e eu lá ia sempre dizendo "buen Camino" com o braço no ar a toda a sente e passado algumas povoações lá completei a distância que queria percorrer.
Foi bom ter comprado o pouco que precisava na cidade pois aqui as aldeias eram simples e de certeza que só não morreram até aos dias de hoje por terem esta via a passar por elas, com tudo nos alforges foi só escolher um sítio ao pé de uma fonte em Rabanal del Camino e passar aí um óptimo tempo a ouvir a natureza e a sentir o calor do sol. Enquanto isto vou buscar a folha que tenho com as altimetrias e vejo que estou que em 10 km passaria dos 1200 para os 1500 metros de altitude, estava prestes a passar o primeiro dos 2 pontos mais altos do caminho sem ter quase dado conta disso.
Acabo de degustar a refeição e num ritmo baixo vou subindo para que a digestão não me pare e por estradas em asfalto e terra subo uma hora até chegar a uma povoação que nem o passar do caminho era suficiente para a renovar, a rua central era pedra com cabras nas bermas e o melhor edificio deste sitio era mesmo o albergue dos peregrinos.





Sigo na subida e encontro as melhores amoras de todo o caminho, e das melhores de sempre que eu encontrei até hoje, eram do tamanho de pequenas uvas e maduras, foi aproveitar esta dávida de deus até dizer chega.



Ao chegar a Puerto de la Cruz de Hierro a vista era explendida, aí havia uma cruz que de grande não tinha nada a não ser na altura, o mais impressionante que tinha era o monte de pequenas pedras que tinha ao redor do seu monte base, aí conta a lenda que se deixa uma pedra que tragamos como se deixasse-mos a nossa vida começasse-mos uma nova.



O espaço era bonito e o dia fazia-o ainda mais pois quase não corria vento e o sol estava fantástico, aquecia a tarde e a alma, por ali fiquei a ver chegar quem pela subida fui passando.
A descida foi alucinante, fiz um troço fora de estrada mas com medo de romper os alforges com tanta pulo decidi fazer no alcatrão e até Molinaseca foi em puro prazer de baixada e curva, a sentir as acelerações que as diferenças de inclinação nos davam e foi espectacular.
Nesse povo encontrei um grupo de bici que não me era desconhecido, 3 de valência, Juan e Cármen, André e outro André que nos deixou pouco à frente. Tinha estado com eles em León e como tinham ideia de ficar no mesmo sítio que eu acabei por ir com eles respeitando o seu ritmo até Villafranca del Bierzo onde completei 110 km e mais uma vez se confirmou a frase que diz " quem caminha só faz terapia, quem caminha junto faz amigos".



Com eles partilhei a minha história, e eles a deles e eram pessoas muito boas, simpáticas e simples. No albergue enquanto escrevia algo surge o primeiro português de todo o caminho, Luís de Odivelas, supostamente escreveria algo rápido para depois comer e 2 horas passaram sem me dar conta... acabei por comer algo e escrever junto à quente lareira acesa até não suportar mais o sono, sim que parece quanto mais próximo de Santiago mais difícil se torna escrever pela quantidade de amigos que se faz! Melhor assim!





Um abraço peregrino, Samuel Santos

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dia 40. Shinning star @ Leon!

Domingo, 24 de Outubro de 2010.



Neste albergue a saída era apenas às 10 mas como Genis queria sair cedo combinamos o pequeno almoço as 8 para nos despedir-mos e eu reparar a bike com tempo.



Tive que trocar os pneus de trás para frente mas já fazia uns dias que tinha pensado nisso pela diferença de desgaste. Com os cortes que o de trás tinha mas podia ter muita pressão o que dificultava o rolar na estrada e trocando ficava perfeito pois podia meter de novo uns 60 psi de pressão atrás onde tinha o meu peso e o da bagagem, assim canso-me menos.
A meio da reparação Genis seguiu e eu disse aos outros para irem dar uma volta pela cidade, quando terminasse iria até à frente da catedral e ligava a Maxim, quando lá cheguei estavam eles com um grupo de admiradores suíços e outro peregrino francês. Palavra puxa palavra, apresentaram-me e no fim da conversa uma senhora puxa por 20 euros e disse-nos "hoje comam algo bom e façam uma festa" he he, e era mesmo isso que tínhamos pensado num albergue que apenas estava a 25 km.



Logo de seguida, outro peregrino que também estava conosco convidou-nos para um café mesmo no largo da catedral, quando a rapariga nos serviu trazia um bolo para cada um, um delicioso caracol e confesso que à muito que não comia algo tão bom... isto de peregrinar faz-me esquecer desses pormenores gourmet e acabo sempre por comer escolhendo pelo preço e este tipo de prazeres passam todos ao lado.



Passamos um bom bocado, visitei a catedral e era fabulosa, enormes vitrais, uma tribuna de madeira no meio e nas laterais magestosos altares mas eram mesmo os vitrais que mais me fascinaram por estarem completamente restaurados.Com o seu tamanho iluminavam todo o interior com reflexos coloridos, os motivos eram todos obviamente em torno da religião.





Olhamos para o relógio e tinha visto um super-mercado aberto, aquele espanhol do El...Inglês e como era o único disse a Julien que era o único e que o melhor seria mesmo ir comprar o jantar com bebida e sobremesa. O dinheiro deu para paella, 2 garrafas de vinho, café e doces para o pão. A estrela da sorte estava mesmo a brilhar com tanta coisa boa aqui em Leon.



Estava na hora de almoço e comemos junto a uma ponte romana mas não daquilo de compramos, isso seria à noite, com o vento que fazia não foi fácil encontrar um sítio confortável mas uma mesa para todos frente ao Ayuntamento e com vista para a ponte romana apareceu.




Seguimos na estrada para o local onde passariamos a noite e para além do céu negro o forte vento estava mesmo de caras.A contrastar com os 140 de ontem fiz apenas 27, e mas zonas da nacional mais desabrigadas em o vento soprava mais era eu quem na frente ia a cortar o vento para os outros que como tinham mais bagagem fariam mais resistência ao vento, ao fim de hora e meia chegamos.Sentimo-nos muito bem acolhidos, a hospitaleira não estava mas havia um aviso a dizer "sinta-se à vontade de escolher uma cama e usar o espaço", isto sim é acolher! Entramos e pela primeira vez vi um beliche que se podia chamar um triliche por ter 3 camas, com uma escada he he! Aproveitamos a espera para um lanche e começamos com uma loucura de leite creme com pão a acompanhar o café, super... estávamos mesmo contentes, todos nós tínhamos dinheiro para irmos comer fora mas a alegria de uma coisa simples que nos ofereceram deliciava-nos a alma.Entretanto chega o grande grupo que vimos no caminho e foi a confusão, uns 15 jovens com uns adultos a acompanhar, todos franceses e ocuparam quase tudo a preparar o jantar. Como tínhamos lanchado só muito depois jantamos a deliciosa paella, as piadas vinham umas atrás das outras e o riso era constante conversando até darmos conta que toda a gente já se tinha deitado.



Um abraço peregrino, Samuel Santos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Dia 39. Ficamos 4!

Sábado, 23 Outubro de 2010.




O coitado do Genis tal como o resto estavam descontente pelos 2.50 euros que tinham dado pelo pequeno-almoço, mas eu como sempre comi do meu saco.

Como ele se queixava do joelho direito tratei do rapaz antes de sairmos, tentei ver como não era superficial deveria ser dos ligamentos, talvez um pouco de fibrose de um salto exagerado que ele dizia ter sido à uns 2 anos. Mandei-o sentar e com uma pomada que me tinham oferecido em Puente lá Reina massagei no onde ele mais se queixava uns 10 minutos até eu pensas que chegava.



Partimos e fomos despedindo pelo caminho dos italianos e brasileiros que conhecemos, como queria encontrar Maxim e Julien e terminar o dia em Leon fomos a um ritmo de treino puxado por estrada com Genis na minha roda.




 Recebi uma mensagem de Maxim a dizer que apenas estavam a 20 km à frente e que almoçariam em Sahagum que para nós seriam 60 km desde o início, perfeito! Continuamos como o gato das botas que em cada passo andava 7 léguas, estrada nacional 120 com o caminho na berma em terra batida, nós seguiamos comigo a treinar séries e o Genis que se aguentasse na roda... mas estava bem com a pouca bagagem que tinha e os pneus de terra duros como rocha. Quando lhe perguntei pela dor do joelho já lá não estava, a massagem e a correcção que lhe fiz na altura do selim foi proveitosa, mas faltava uma coisa que era acertar a inclinação também do selim pois estava inclinado para trás, paramos para comer algo e corrigir o erro.Seguimos a Sahagum e quando chegamos tentei ligar a Maxim, respondeu depois a dizer onde estava quando estávamos a fazer compras e foi só ir até eles... grande festa!




Abraços e histórias, comemos e rir na Plaza Maior junto ao mercado de rua que havia, com tudo o que era tradição e pessoas pela rua, cheiros e cores com o sol que fazia a manter-nos quentes, hum... óptimo estar entre amigo, e assim passamos a ser 4!



Genis era engraçado por ter tanto stress, acabava por perder imenso tempo perguntado tudo e mais alguma coisa, quanto kms, onde era, qual a estrada e eu a dizer que sabia pois tinha no gps.Continuamos em grupo até Manzilla de Mulas onde alguém tinha que ceder, ou Genis parar por aí ou Julien e Maxim continuar 20 km mais até Leon, para mim era igual e eu fiz um acordo com eles, se o albergue fosse bom e houvesse um supermercado low-cost ficavamos, caso contrário continuavamos e foi o que aconteceu, saímos por uma ponte romana antiga e siga a Leon. 6 km antes a bici deu sinal que também queria tempo de antena, o pneu de trás tinha uma bolha do tamanho de uma ameixa como se não tivesse câmara de ar, solução foi cortar a bola com um pequeno golpe na lateral e ver o as sair misturado com o líquido anti-furo, logo de seguida seguir para tentar chegar à cidade.



Cansados vimos por todos que tinha sido uma optima escolha pois Leon é fantástica e o albergue era de peregrinos e da juventude, simplesmente não tinha hora de fecho e com o micro-ondas acabamos por ir comprar umas lasanhas para o jantar.

Havia também wi-fi grátis e depois de actualizar tudo fomos dar uma volta já era perto de meia-noite, as gentes de espanha são bem características pois parece que todas estão a estrear roupa com cores garridas, os bares e à porta cheios de papel no chão e isso faz um contraste enorme pois fashion devia ser sinônimo de gente não tão desinteressada pela limpeza do espaço... mas bonita a noite aqui.
Vimos tambem a linda catedral de Leon iluminada, espantosa como julgava ser.




Voltamos para o albergue para mais um café com os bolos que haviam e conversamos até às tantas...



Um abraço peregrino, Samuel Santos.

sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 38. El dia del tirón.

Sexta, 22 de Outubro de 2010.


O pequeno-almoço foi oferecido pelo albergue fazendo assim valer um o donativo, e cedo novamente parti.Saí na conversa com um francês para aquecer um pouco enquanto conversava e passou um rapaz cheio de pressa e "até já" pensei eu, assim que deixei o francês não tardou muito até até alcançar o outro mas só porque ele estava na conversa porque ia a andar muito bem.


Como te chamas, "Genis de Lleida, quero fazer hoje 100 km", tenho colega pensei eu e assim foi. Num ritmo um pouco mais baixo que o meu mas perfeito para aquilo que queria fazer, muitas horas e muitos km pois queria almoçar em Burgos com 50 km e fazer outros tantos pela tarde.





Pelo caminho encontramos uma procissão (a partir e 5 não é peregrinação é procissão, lol) de umas 2 turmas de alunos de Burgos que de autocarro foram a Belorado e em 2 dias voltariam a casa.



Chegamos a Burgos era meio dia, eu aligeirei a carga de comida que trazia e o colega foi ao menu e pela tarde foi sempre no seu ritmo comigo.Uma enorme nuvem tapava todo o céu mas estava muito agradável para andar, o terreno era na maioria plano e por isso tinha pensado em fazer bastante hoje para compensar o pequeno dia anterior.





A estrada quase toda em terra batida mas uma verdadeira auto-pista de peregrinos, com vistas fantásticas das planícies agrícolas que também têm o seu encanto.



Acabamos e dia em Fromista num albergue municipas que cobrava 7 euros sem nada, sem cozinha, pouca luz... mau! Tínhamos pensado num povo antes numa velha escola mas estava fechada, não havia supermercado e o albergue que havia era particular, mas penso que seriam 5 com cozinha... enfim continuamos até este e como tínhamos 120 km tudo em caminhos por aqui ficamos.

O jantar também pelos 2 comprado no super e regado com tinto da zona, um colega 5 estrelas mas amanhã vou seguir a solo para chegar a Leon mais cedo e conhecer essa cidade, e talvez reencontrar Julien e Maxim.



Um abraço, Samuel Santos!

Dia 37. Entrevista a Rádio Alfa de Paris.

Quinta, 21 de Outubro de 2010.


 
Acordo e na casa de banho olho-me ao espelho e a minha figura fazia-me lembrar algo, depois no pequeno-almoço uma americana disse-me que eu estava com a expressão de um quadro muito famoso, a minha figura séria, magra, olhos verdes com alguma barba e a roupa preta que estava igual... não lhe perguntei o artista mas essa era a figura que eu reconheci no espelho.




Haviam 2 Galegos e mais 3 de Pamplona em bicicleta e começei com os 2 galegos que estavam a fazer o caminho com bastante tempo mas como era cedo andar lento não seria um problema.



Às 9 como combinado ligaram-me da rádio Alfa de Paris para uma entrevista, foi um prazer falar para esta rádio que tanta vez me deu informações de trânsito e me fez companhia no início deste ano quando por aqui passava de camião.



Depois tenho que ver o que saiu deste momento mas se notíciaram hoje certo que o meu pai ouviu pois a carga se ele tinha em Pamplona era para lá... coincidências! Quando parti apanhei os outros 3, mas um deles fazia os outros irem completamente a passear pois não fazia desporto e estava um pouco forte, mesmo assim é de louvar a iniciativa de vir pois certamente que pode ser o início de alteração de alguns hábitos.Com eles andei um pouco, até lhes emprestei uma chave para apertar o pedaleiro mas não era a mais adequada, mas ao fim de uma hora deixei-os para trás para acelerar um pouco até São Domingos onde almoçei.


O céu estava azul e limpo, apenas se viam os riscos brancos dos aviões e aqui se via perfeitamente as rotas deles como que direção a Madrid e outra que de certeza seria de Barcelona a Londres, ficava uma cruz de vários riscos como se uma criança tivesse feito com régua e lápis. O terreno tinha algumas subidas mas maior parte era plano pelos campos, com imensas vinhas já trabalhadas pela máquina de vindima, mas tantas e tão doces uvas tinha deixado que várias foram as vezes que parei para encher a barriga, lol!


Hoje tinha decidido de não correr pois o dia anterior tinha sido forte, acabei na vila de Belorado, já por aqui tinha passado e este nome fazia-me lembrar o nome de El Dourado, e realmente na igreja matriz todos os altares eram dourados com as paredes restauradas em branco gesso.


Aqui estive em mais uma missa, e está fica na memória por ter sido a mais rápida, o padre era mesmo um atleta das palavras como maior parte dos espanhóis que falam super-rápido, mas isto foi depois de ter entrado no albergue.O sítio que escolhi para dormir foi o albergue paroquial, que me pareceu ser um sítio marcante por ser ao lado da igreja e ser muito antigo, mas muita escolha havia aqui e 2 delas com piscina! Mas esta era mesmo diferente, eram hospitaleiros Suíços que todos os 15 dias mudavam, e o velho edifício tinha sido um pouco melhorado, as paredes pintadas de salmão e as traves bordeaux, mesmo à espanhol, giro, tudo o resto era antigo.


Descobri que esqueci-me em Logrõno do muesli e mesmo com os alforges ainda com bastante, fiquei aborrecido por me ter esquecido pois não gosto mesmo de deixar nada para trás... mas enfim, amanhã passa.



Um abraço amigo, Samuel Santos!

Dia 36. Encontro com o meu pai.

Quarta-feira, 20 de Outubro de 2010.


6.30 toca o despertador e vejo que não tinha mensagem nenhuma do meu pai a confirmar que tinha chegado ao local combinado. Mando eu uma para que ele me diga algo e responde-me às 7 que foi quando chegou, faço-me até ao local combinado. Com ele matei saudades, falamos bastante e ao fim de rápidas 2 horas ele teve que seguir, e eu também mas de alforges completamente cheios de tudo...



Nota-se tanto o andar da bike com uns kilos a mais que voltar a subir o Monte del Perdon foi mesmo algo um pouco penoso, mas à 3 terceira foi de vez! Quando voltei a Puente lá Reina começei a encontrar de novo os peregrinos que desde San Jean Pied de Port me acompanhavam, é incrível aquilo que eles andam. Tambem encontrei a alemã que trazia o carro foi com ela que almocei junto á ponte romana. Quando retomei foi pelos caminhos, fotos e uvas, queria aproveitar tudo ao máximo.


O céu estava todo tapado e me engano muito ou vai começar a chover... se verá. Nas vinhas ainda se vem as máquinas a vindimar mas como a pressa é inimiga da perfeição fica tanta uva para trás que quando paro faço render a paragem, e super maduras com o sabor do sumo das outras que a máquina apanhou são maravilhosas, um verdadeiro prazer daquilo que sobrou.


 
Los Arcos, Estella, aqui encontrei Petra, uma jovem checa que ia mais avançada de todos que partiram de Roncesvalles, Viana e por fim Logrõno onde fiquei com 120 km, mas os últimos por estrada.Aqui voltei a dar uma volta nesta cidade praticamente feita no meio de um deserto, que em julho na minha última viagem de trabalho tinha visitado. Muito gira esta cidade, com uma enorme zona de lazer à beira rio como a que está projectada na minha cidade de Alcobaça. O jantar foi feito de modo a aliviar o peso e diminuir o volume pois é bom ter muito que comer mas para fazer o caminho é melhor ir mais ligeiro.





Um abraço peregrino, Samuel Santos.

Dia 35. Voltar a Pamplona!

Terça, 19 de Outubro de 2010.

Os dia vão ficando bem mais pequenos e acordar ainda de noite está a tornar-se um hábito, hoje não foi excepção.



Depois do pequeno-almoço fui a pé com os meus amigos até à ponte romana e lá me despedi deles. A razão justificava voltar atrás contra o vento: o meu pai iria passar em Pamplona hoje à noite e talvez pudesse ficar com ele no camião (mais uns euros de poupança e certamente que ele me encheria os alforgues de comida, he he!).





 
Após a despedida iniciei marcha e, como tinha pensado, hoje faria pelo caminho de terra todo o percurso que no dia anterior não tinha feito (pelo motivo dos colegas ). Campos lavrados, vinhas abandonadas e celeiros, muito mais agradável que o habitual alcatrão. O vento que no dia anterior ajudou hoje estava a cobrar a ajuda.

Volto ao Monte del Perdon e cuidado!!... pedra solta e subida muito inclinada, mas à mão e com muito esforço fez-se. Quando cheguei ao topo uau!!! Um monumento ao peregrino feito pela empresa das eólicas onde se podia ler "onde o caminho do vento se cruza com o caminho das estrelas". A vista fantástica: atrás a planície e à frente o grandioso vale de Pamplona!

Ontem não falei no vale mas ele merece destaque: é como que um enorme espaço, diria uns 30 ou 40 kms de diâmetro circundado de magestosas montanhas, só mesmo vendo as fotos é possível ter noção.

Nesse sítio comi mais algo e quando começo a descida encontro uns jovens que no dia anterior tinham feito 42 kms e hoje já aqui estavam! E a sorrir! Fiquei doido com eles e depois de alguma conversa segui os trilhos de descida do lado oposto, muito mais interessante do que a subida.

Chegado à cidade volto a conhecer um pouco mais que tinha visto no dia anterior e encontro um grupo exclusivo: eram músicos com bicicletas alteradas para transportar os instrumentos, e tinham tanto de bugiganga como eu de bagagem... enfim, eles não deviam fazer muitos kms, até talvez vivessem por aqui pois esta cidade é muito conhecida pelos músicos que daqui saem formados, e pelos outros que cá vem tocar.

Visitei também a catedral. Com a credencial de peregrino tinha desconto e apenas paguei 2 euros para poder ser quase o dono daquele monumento (durante a minha visita não estava mais ninguém)!

Faço mais um tempo pela cidade, afino os travões à bike, actualizo o blog e também o facebook no macD...alds e encaminho-me para o sítio que o meu pai me tinha dado por mensagem como local de encontro.

Faço uns bons 10 kms até chegar a Noaim, onde durante a espera encontrei o jardim dos sentidos atrás do exótico edifício do Ayuntamento. Esse jardim era realmente um pequeno paraíso moderno, as cores da visão, frutos para o gosto, cascatas para a audição, o vento e o sol e água para o tacto e os cheiros das flores para o olfacto, muito original mesmo.




Encontro o local que o meu pai tinha falado perto de um aqueduto como o das águas livres em Lisboa, e quando lhe telefono ele diz-me que está atrasado... e muito... Acabei por decidir ir até ao albergue e comprar algo para comer, e vi que este dia de suposto descanso terminou com 67 km...



O albergue era um edifício muito antigo mas completamente modificado para albergar cerca de 200 peregrinos com divisões em placas de madeira clara, e tinha 2 andares, ambos com beliches. O tecto era muito antigo e na escuridão quase passava despercebido mas o contraste do estilo contemporâneo das alterações misturado com o antigo em edifício estava fantástico.

Vou encontrar-me amanhã cedo com meu pai no local combinado.

Um abraço peregrino,
Samuel Santos.