Sigo só e reparo que no azul do céu a lua volta-me a fazer companhia pela manhã, para além disso o vento hoje em modo de desculpa sopra na direcção para onde vou. Passado 2 horas ao chegar a Astorga quando o caminho se junta com a nacional lá iam eles os 2, he he, mais uma dose de riso! Dei uma visita à cidade com eles e fomos às comprar, eles para almoçarem logo e eu para depois pois queria fazer 50 km antes de almoço.
Aqui vimos por fora mais uma imponente catedral que tal com em Pamplona tinha sido convertida em museu e tambem reparei num palacio construido pelo traço do famoso arquitecto Catalão Gaudi.
Mais uma despedida e segui, aqui o cenário muda imenso, o caminho segue numa pequena estrada passando campos que deixam de ser planos, e a vegetação pouco a pouco vai mudando até fazer lembrar o Alentejo na zona de Portalegre, com sobreiros e a uma montanha na frente, o traçado era uma enorme recta que ia ganhando altitude de forma muito tímida, peregrinos aqui era coisa que não faltava e eu lá ia sempre dizendo "buen Camino" com o braço no ar a toda a sente e passado algumas povoações lá completei a distância que queria percorrer.
Foi bom ter comprado o pouco que precisava na cidade pois aqui as aldeias eram simples e de certeza que só não morreram até aos dias de hoje por terem esta via a passar por elas, com tudo nos alforges foi só escolher um sítio ao pé de uma fonte em Rabanal del Camino e passar aí um óptimo tempo a ouvir a natureza e a sentir o calor do sol. Enquanto isto vou buscar a folha que tenho com as altimetrias e vejo que estou que em 10 km passaria dos 1200 para os 1500 metros de altitude, estava prestes a passar o primeiro dos 2 pontos mais altos do caminho sem ter quase dado conta disso.
Acabo de degustar a refeição e num ritmo baixo vou subindo para que a digestão não me pare e por estradas em asfalto e terra subo uma hora até chegar a uma povoação que nem o passar do caminho era suficiente para a renovar, a rua central era pedra com cabras nas bermas e o melhor edificio deste sitio era mesmo o albergue dos peregrinos.
Ao chegar a Puerto de la Cruz de Hierro a vista era explendida, aí havia uma cruz que de grande não tinha nada a não ser na altura, o mais impressionante que tinha era o monte de pequenas pedras que tinha ao redor do seu monte base, aí conta a lenda que se deixa uma pedra que tragamos como se deixasse-mos a nossa vida começasse-mos uma nova.
O espaço era bonito e o dia fazia-o ainda mais pois quase não corria vento e o sol estava fantástico, aquecia a tarde e a alma, por ali fiquei a ver chegar quem pela subida fui passando.
A descida foi alucinante, fiz um troço fora de estrada mas com medo de romper os alforges com tanta pulo decidi fazer no alcatrão e até Molinaseca foi em puro prazer de baixada e curva, a sentir as acelerações que as diferenças de inclinação nos davam e foi espectacular.
Nesse povo encontrei um grupo de bici que não me era desconhecido, 3 de valência, Juan e Cármen, André e outro André que nos deixou pouco à frente. Tinha estado com eles em León e como tinham ideia de ficar no mesmo sítio que eu acabei por ir com eles respeitando o seu ritmo até Villafranca del Bierzo onde completei 110 km e mais uma vez se confirmou a frase que diz " quem caminha só faz terapia, quem caminha junto faz amigos".
Com eles partilhei a minha história, e eles a deles e eram pessoas muito boas, simpáticas e simples. No albergue enquanto escrevia algo surge o primeiro português de todo o caminho, Luís de Odivelas, supostamente escreveria algo rápido para depois comer e 2 horas passaram sem me dar conta... acabei por comer algo e escrever junto à quente lareira acesa até não suportar mais o sono, sim que parece quanto mais próximo de Santiago mais difícil se torna escrever pela quantidade de amigos que se faz! Melhor assim!
Um abraço peregrino, Samuel Santos