Os dia vão ficando bem mais pequenos e acordar ainda de noite está a tornar-se um hábito, hoje não foi excepção.
Depois do pequeno-almoço fui a pé com os meus amigos até à ponte romana e lá me despedi deles. A razão justificava voltar atrás contra o vento: o meu pai iria passar em Pamplona hoje à noite e talvez pudesse ficar com ele no camião (mais uns euros de poupança e certamente que ele me encheria os alforgues de comida, he he!).
Após a despedida iniciei marcha e, como tinha pensado, hoje faria pelo caminho de terra todo o percurso que no dia anterior não tinha feito (pelo motivo dos colegas ). Campos lavrados, vinhas abandonadas e celeiros, muito mais agradável que o habitual alcatrão. O vento que no dia anterior ajudou hoje estava a cobrar a ajuda.
Volto ao Monte del Perdon e cuidado!!... pedra solta e subida muito inclinada, mas à mão e com muito esforço fez-se. Quando cheguei ao topo uau!!! Um monumento ao peregrino feito pela empresa das eólicas onde se podia ler "onde o caminho do vento se cruza com o caminho das estrelas". A vista fantástica: atrás a planície e à frente o grandioso vale de Pamplona!
Ontem não falei no vale mas ele merece destaque: é como que um enorme espaço, diria uns 30 ou 40 kms de diâmetro circundado de magestosas montanhas, só mesmo vendo as fotos é possível ter noção.
Nesse sítio comi mais algo e quando começo a descida encontro uns jovens que no dia anterior tinham feito 42 kms e hoje já aqui estavam! E a sorrir! Fiquei doido com eles e depois de alguma conversa segui os trilhos de descida do lado oposto, muito mais interessante do que a subida.
Chegado à cidade volto a conhecer um pouco mais que tinha visto no dia anterior e encontro um grupo exclusivo: eram músicos com bicicletas alteradas para transportar os instrumentos, e tinham tanto de bugiganga como eu de bagagem... enfim, eles não deviam fazer muitos kms, até talvez vivessem por aqui pois esta cidade é muito conhecida pelos músicos que daqui saem formados, e pelos outros que cá vem tocar.
Visitei também a catedral. Com a credencial de peregrino tinha desconto e apenas paguei 2 euros para poder ser quase o dono daquele monumento (durante a minha visita não estava mais ninguém)!
Faço uns bons 10 kms até chegar a Noaim, onde durante a espera encontrei o jardim dos sentidos atrás do exótico edifício do Ayuntamento. Esse jardim era realmente um pequeno paraíso moderno, as cores da visão, frutos para o gosto, cascatas para a audição, o vento e o sol e água para o tacto e os cheiros das flores para o olfacto, muito original mesmo.
Encontro o local que o meu pai tinha falado perto de um aqueduto como o das águas livres em Lisboa, e quando lhe telefono ele diz-me que está atrasado... e muito... Acabei por decidir ir até ao albergue e comprar algo para comer, e vi que este dia de suposto descanso terminou com 67 km...
O albergue era um edifício muito antigo mas completamente modificado para albergar cerca de 200 peregrinos com divisões em placas de madeira clara, e tinha 2 andares, ambos com beliches. O tecto era muito antigo e na escuridão quase passava despercebido mas o contraste do estilo contemporâneo das alterações misturado com o antigo em edifício estava fantástico.
Vou encontrar-me amanhã cedo com meu pai no local combinado.
Um abraço peregrino,
Samuel Santos.
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