Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















domingo, 17 de outubro de 2010

Dia 30. Chegada a Lourdes.

Quinta, 14 de Outubro de 2010.


Aceitei o convite dos sinos a despertar às 07:00. Tocavam como se estivessem no quarto e de facto pela janela viam-se as torres e toda a cobertura da bonita catedral de Auch.

Tomei o pequeno almoço e parti, mas ainda na cidade aproveito para rondar o mercado.

Na estrada vejo um peregrino e quando aproximo vejo que era o coitado do austríaco que já tinha 10 kms feitos... um verdadeiro atleta! Tirei uma foto e "-Dank u pizza!" dizia ele. He he, fui a salvação do homem!



O terreno aqui era de constantes altos e baixos mas o pior era mesmo o vento forte de caras durante toda a manhã, a juntar a alguma falta de energia...

O almoço foi num pequeno jardim em Rabastens que tinha uma estátua de Pyrèné. Reza a história que Pyrèné era a bela filha do rei local Bebryx no tempo de Heracles. Durante os ataques de Heracles escondeu-se nas montanhas vizinhas e foi morta pelos animais ferozes. Heracles ao passar pelas montanhas encontrou o seu corpo morto e organizou seu funeral. Em memória dela chamou Pirinéus as montanhas desta região.



Daqui virei para Tarbes e o vento melhorou um pouco pois ficou lateral. Daí até ao destino foi um pouco mais confortável.



Cheguei a Lourdes com 100 kms e tive o azar de ser mal recebido no santuário... Antes do recinto, como sinal de respeito, tirei o capacete e a segui a pé ao lado da bicicleta. Ia entrar no recinto para procurar o balcão de acolhimento de peregrinos quando o guarda de serviço (que me pareceu ter uma natural aptidão para pastor de rebanhos) simplesmente me dizia que bicicletas não, embora eu fosse a pé, e mandava-me calar...

Enfim, como não lhe conseguia perguntar onde era o balcão das informações, tal era a ignorância com que ele me tratava, cada vez que ele me mandava calar e virava costas eu voltava a entrar. Ele a dizer que chamava a polícia... por mim até podia chamar o padre que só me ajudava, pois com ele falaria bem melhor...

Bem, lá tive que dar a volta à situação e ele acabou por me dizer onde era o balcão que eu procurava. Tive a informação de um acolhimento dos Caminhos de Santiago mas quando o encontrei descobri que era particular e o donativo estava bem defenido... mas pronto, acabou por valer, pois o senhor ofereceu o jantar e o pequeno almoço seguinte.

Às 21h fui à procissão das velas. É incrível o número de pessoas e doentes que estavam a assistir, e este dia era um dia perfeitamente normal! Pelas minhas contas seriam cerca de 4000, mas poderiam ser mais, o que demonstra bem a afluência de pessoas de todo o mundo aqui.


De volta ao quarto, em paz fui descobrindo a história local pelos boletins de informação que lá estavam em muitas línguas menos na nossa. Até que chegou o dono da mochila do beliche ao lado de onde vinha um cheiro bem marcante...Era um jovem italiano um pouco perdido talvez, que de peregrino não tinha muito. Dizia que por falta de dinheiro para o comboio não podia ir até São Jean Pied de Port... Daahhh! Então que fosse a pé ou à boleia, pois mais 100 ou menos 100 kms até Santiago não faria a diferença. Tive que aproveitar o momento de ele ir ao wc para me enfiar no saco cama e cortar a desagradável conversa... encontramos de tudo pelo caminho...

Um abraço peregrino,

Samuel Santos.

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