Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















domingo, 3 de outubro de 2010

Dia 16. Até Aosta, o início da escalada a Grand San Bernard.

Quinta, 30 de Setembro de 2010.


4 da manhã, acordo de um sonho que me deixou pensativo... Mostrou-me (quase como numa mensagem) eu voltando a abrir o pequeno negócio que outrora tive, sorrindo de felicidade como nesse tempo vivia... levantei-me, fiquei acordado um tempo e voltei a deitar-me.

Pelas 08:00 nova chamada, preparar-me e sair. Logo em Donnas descubro uma rua histórica, sem negócios. O seu topo era um arco romano que datava em primeiro século – nessa zona ambas as escarpas quase se uniam e quando se voltaram a afastar descubro uma paisagem deslumbrante... um enorme e plano vale que chega a ter uns 3 kms de largura, sempre subindo muito discretamente. Quase que dá para imaginar o tempo em que certamente o mar chegava a este sítio e maré após maré ia tecendo este liso vale. Com o vento ligeiramente contra chegam-me aromas de pão acabado de cozer, juntamente com pizza e croissants... e não, não era imaginação por estar com fome.

Continuo a sentir-me fraco, como que tivesse a precisar de uns dias de repouso. A factura de ter ido a Milão estava a ser apresentada...Após muitas fotos, vários e diferentes caminhos por nacionais mistos de aldeias históricas vou-me encaminhando por este enorme vale dentro. Para se ter uma noção da importância e dimensão deste vale basta dizer que depois dos 20 kms que fiz ontem de Ivrea a Donnas, hoje fiz mais 60 até Aosta.

Já faz 80, mas pelos mapas que vi posso contar com pelo menos mais outros 60 até Courmayer e Mont Blanc, que faz fronteira com França. Diria um total de talvez 150 km de vale glaciar por estradas, confirmem no google earth.

Chego a Aosta e tudo é histórico romano, desde o início por séculos pós Cristo: um foro romano com um teatro e anfiteatro e debaixo da basílica um memorável cryptoportico, uma galeria já parcialmente soterrada mas de deixar qualquer um espantado pela dimensão do comprimento e número de arcos,. Não se parece com nada que tenha visto antes.

Paro para comer uma fatia de pizza junto ao grande Arco di Augusto, o do triunfo cá da zona mas uns bons séculos mais velho. Depois de restauradas as energias visito o resto da cidade. Pelas 17:00 horas vou até à paróquia de Saint Martin de Corleans para procurar onde descansar e preparar-me para a escalada que farei amanhã, se o tempo permitir. Encontrei uma senhora que me recebeu da melhor maneira possível. Dona Grazziela encaminhou-me para o local onde ia passar a noite e qual foi o meu espanto quando cheguei e vi que era um águas-furtadas como o meu apartamento, mas num pequeno estúdio com 2 camas, uma pequena cozinha e casa de banho... senti-me em casa! Hummmm, foi óptimo estar aqui na casa paroquial onde don Albino é o pároco. Pela noite devoro não apenas comida mas também os livros que este espaço tinha: acerca da via francigena, do vale Aosta e também de pintores e escultores famosos como Caravaggio, Michelangelo e Leonardo da Vinci. Escrevo estas palavras enquanto descanso e massago as pernas para o dia seguinte.

Um abraço,
Samuel Santos.

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