Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia 24. Le Puy-en Velais!

Sexta, 8 de Outubro de 2010.


Após uma noite sinfonica de "every kind of noises" como mais tarde me disse Ally, acordei naturalmente com o barulho do chão de madeira que rangia cada vez que alguém de mexia... Eram 6 da manhã e após um pouco de ronha lá me levantei pois o pequeno-almoço era às 6:30. Quem partia já tinha tudo preparado para seguir logo após a missa dos peregrinos às 07:00, rezada nas línguas de todos os participantes. Eu traduzi a parte final para português, em que pedia ao Senhor e a São Tiago que nos protegesse e nos providenciasse uma boa viagem.



De regresso ao gite falo com Ally, uma rapariga da Ucrânia que vivia no Canadá e que estava a viajar por 9 meses. Tinha apenas 9 dias para visitar Espanha. Embora quisesse fazer o caminho a pé não tinha tempo e após a conversa que tínhamos tido na noite anterior decidiu seguir para Barcelona, depois Madrid, Sevilha e Faro, onde facilmente voaria para Londres, deixando para uma próxima as cidades do caminho de Santiago. Acompanhei-a à estação de autocarros, pois no albergue iria ter todo o dia para descansar antes de visitar esta acolhedora cidade. Falámos bastante sobre viagens: ela vinha do Japão, Banguecoque, Índia... tinha histórias fantásticas, muita experiência de viver em viagem, tanta que fazia dela uma pessoa simples mas muito agradável. Um pouco antes de partir, deixei-a na estação e fui visitar a cidade.

O museu e o hotel de ville, de seguida a exposição de fotos na galeria de turismo onde encontrei o padre que tinha presidido a missa de manhã. Reconheceu-me e conversei com ele um pouco… Estava encantado e curioso dos porquês desta viagem. Disse-lhe que tenho sido um felizardo com todas as surpresas e pessoas que tenho encontrado ao longo do caminho, e pela saúde que tenho. Acrescentei que viajo sozinho, que suporto e gosto da solidão e que maioria das pessoas que se preparam só fisicamente podem não conseguir. Tenho feito como me contou Françoise em Valencogne: se a a alma não fraquejar teremos sempre força para continuar, como que o santo espírito entrasse pela alma e desse força ao corpo. Recordando o meu tio Armando disse-lhe “-Não dê Deus ao corpo aquilo que ele aguenta”. O padre concordou e quando no final lhe perguntei o nome ele respondeu "- Henry Brincard, Bispo de Le Puy. Gostei muito de falar consigo.". Também eu, eminência!

De seguida baixei até ao centro para comprar almoço e o mais engraçado foi a senhora do supermercado ter dito "- Hum, só produtos de marca branca… Esperto!" com um sorriso. Eu respondi que sou peregrino e todos dias faço assim. Quanto menos gastar por dia mais dias posso ter de férias, he he.
Voltei a subir e pensei: “ - Vou visitar a estátua da virgem. Será um sítio fantástico para comer!” Gastei 5 euros pela comida mais 3 pela monumental esplanada, mas valeu cada centimo. A estátua tem 150 anos, é feita de ferro e no interior pode-se subir numa escada em caracol e ir espreitando por umas pequenas janelas (como que escotilhas) e ver a enorme altura que ela mais o monte que a suporta tem. Do seu topo ao centro da cidade são 167 metros de desnível!



Por lá fiquei umas 3 horas a visitar, comer, escrever e uma novidade, desenhar! Pelo caminho tenho visto algumas exposições de pintura de aguarela em tela, eu não estava dotado de tanto material mas por aquilo que oiço dizer não é o material que faz o artista. Para mim um papel e uma caneta preta foi o suficiente para mais uma vez ter a certeza que eu definitivamente não sou artista...



Portanto pelo desenho que fiz tenho a dizer a quem sabe desenhar que vos admiro muito, pois tenho a certeza que até de olhos fechados fariam melhor do que eu! Tinha o modelo mesmo ali à frente e seria só copiar caso tivesse essa capacidade... mas não, e dificilmente fiz os racisbos que no fim apareceram. E tal como quem desenha bem tem uma virtude, eu tenho a sorte de ter saúde e resistência, que me porta por estes caminhos fora de uma forma não sofrida. Isso é uma razão para fazer o caminho como que agradecimento a Deus por essa capacidade! E vocês já agradeceram a vossa virtude ao Senhor?... Pensem nisto!



Um abraço peregrino,
Samuel Santos

1 comentário:

  1. Compreendo perfeitamente essa falta de jeito para desenhar... no meu caso, um desgosto para os meus progenitores! Cada um com os seus talentos.
    Continuação de excelente aventura! Aproveita cada minuto!

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