Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia 26. Piano, Guitarra, Órgão e Flauta.

Domingo, 10 de Outubro de 2010.

Nem a janela de sotão que estava a meio metro da minha cara me acordou com a pouca luz que por aí entrava. Tinha que sair cedo, ou pelo menos por volta das 9:00, mas abusei um pouco. No pequeno almoço terminei o maravilhoso doce que Joelle me tinha dado na quinta feira... o que é bom não dura para sempre!

Iniciei a jornada numa zona de planalto, ruralismo profundo que me faria lembrar o Alentejo caso tivesse sol, mas este plano era acima da cota 1100. Uma brisa suave e fria tocava-me na parte anterior do ombro esquerdo, o que era confortável não só pela ajuda na progressão do terreno mas também por não ir a ouvir o ruído de vento mas orelhas. As nuvens acompanhavam a baixa altitude tanto que quando passei a estação de esquis do Col d'Abrac (a 1300 metros) o ambiente ficou de nevoeiro das nuvens. O vento aí gotejava tudo e tudo estava húmido. Depois uma valente descida - ficou o registo da velocidade máxima em 74 km/h! Rápido me distanciei das nuvens por baixar tanto e pela descida apanho castanhas. O casal húngaro que conheci em Le Puy disse-me que tinha apanhado umas que eram óptimas - estavam fechadas no ouriço que picava bastante, mas aprendi que com uma pisadela eles abriam e soltavam aquilo que eu queria. Almocei as sobras do jantar anterior por volta das 12:30. Já com 56 kms feitos entro no fabuloso vale do rio Lot, numa estrada pitoresca serpenteada pelo terreno. Tinha formações rochosas de xisto negro com clivagem definida e quando o deixo (passados 15 kms) subo um empeno de 350 metros em 4 kms.

Pela subida encontro castanhas maiores do que aquelas que trazia, eram do tamanho de pinhas!... mas não se iludam: as pinhas daqui é que são pequenas, he,he.



Subi de 250 a 700 metros onde encontrei um pequeno santuário de Nossa Senhora das Alturas e reparei que estava já a tocar nos 100 kms, mas ainda era cedo para parar num albergue que o guia me indicava. E depois, sem saber bem porquê, algo me chamava para Conques, 20 km depois. Chegado ao local que me chamava dou-me com a lindíssima aldeia de Visto, com uma enorme abadia onde estava a decorrer a festa da paróquia com procissão. Pensava que iria demorar e decidi tomar um banho rápido... eu a chegar e a procissão terminada há um par de minutos. Largou-se a chover e fiquei contente por me ter safado à chuva, que por todo o dia me tinha ameaçado. Os organizadores convidaram-me para jantar com o grupo da festa juntamente com outros peregrinos que cá também estavam e foi algo muito bom! Realmente aí percebi o porquê de tanta atracção por esta terra.






Uma das senhoras da festa pediu-me se podia ler na oração depois do jantar um texto em português, tal como outros de mais nacionalidades, e eu aceitei, mas o momento mágico veio depois... No mosteiro há meia luz, um concerto de piano pelo padre Jean… maravilhoso, deixou-me comovido. 15 minutos depois guitarra clássica tocada por quem sabia - há muito que não ouvia tão belas partituras tocadas em corda. Para terminar órgão de tubos com flauta... enfim, inesquecível a vila de Conques, a minha prenda do dia!

Um abraço a todos,

Samuel Santos!

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