Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dia 21. "Côte du Rhone"

Acordo pensando que estava a chover mas logo olho para a janela de telhado inclinado e vejo que o barulho é do vento. Embora sejam já 8 da manhã há pouca luz por o céu estar todo tapado por negras nuvens... o meu colega Sebastian acorda logo de seguida.Comemos qualquer coisa e fomos à recepção para entregar a chave, acabei por perguntar à rapariga se ela por acaso não tinha um guia para confirmar os outros albergues do caminho. Foi buscar um antigo mas que funcionou na perfeição, pois nem eu sabia o que o contacto que ele me deu me tinha reservado. Obrigado menina!
Sebastian esperou por mim e como ele ia ao macD..alds lá da zona acabei por ir também para postar mais uns dias no blog.


Conversa puxa conversa, saí stressado eram já 10.30h, sabendo que até Valencogne eram cento e alguns kms a somar aos 90 de ontem. Mas cedo perdi a pressa, o vento estava contra e o início tinha uma longa subida que dos 350 me levou aos 700 metros. Depois, do outro lado foi sempre a aproveitar a longa descida sempre a curvar, passando ao lado de pequenas aldeias com os espaços muito verdes e floresta densa até Seyssel, onde a 270 metros o caminho já era plano. Seguiram-se cerca e 5 kms a acompanhar um riacho que aqui se junta a um grande rio, o Rhone.

Seyssel era uma pequena cidade típica francesa com uma ponte histórica, as varandas das casas coloridas pelas flores, os pequenos comércios e as ruas principais limitadas ao trânsito. Não era muito grande e como estava a andar à pouco tempo decidi seguir e almoçar apenas uns kms depois, num parque desportivo à beira rio. Este espaço tinha vários equipamentos para as crianças e também um que nunca tinha visto: uma pista num formato de uma cápsula para bicicletas, com as curvas suavemente inclinadas até uns 45 graus como se vê nos jogos olímpicos, só que esta está a céu aberto e é em asfalto. No final sigo pelo vale e tinha julgado ter deixado o lago Léman para trás definitivamente, mas afinal estava agora a acompanhar o largo rio que daí nasce das águas jorradas em excesso.
Dei-me conta disso quando pelo caminho (para além de alguns sinais a indicar o caminho de santiago) havia outra placa que tinha uma bicicleta desenhada e que dizia "Du Léman au mer". Uau, o mar está a uns 500 kms! Este rio também é muito curioso para mim pois dá o nome a uma região demarcada de vinhos (como o título deste artigo). A piela que eu apanhei no início do ano aqui em França não me deixa esquecer este nome, he he... Mas esta história eu não conto... he he!

Nesta altura a altitude vai baixando muito lentamente mas a cada, talvez, 20 metros de desnível existe uma pequena barragem para produção eléctrica. Num pequeno espaço vi umas 4! " O Rhone ao serviço da nação" diziam na língua nativa as placas em bronze.Contínuo até Yennix, uma parte em que a montanha fecha e apenas cabe a estrada, como se tivesse rachado e aberto. Mesmo assim algumas partes foram abertas a broca e explosivos para que 2 camiões passassem.


Por essa zona é fácil identificar galerias no interior do maciço rochoso pois vêem-se as entradas, onde quem sabe na época do paleolitico viveram clãs inteiros de homo sapiens na sua luta pela sobrevivência. A pedra aparenta ser quebradiça sem sentido de clivagem mas de estratos bem definidos.  Esses estratos não estão na horizontal mas sim à meia esquadria. Pouco depois abre-se um pequeno vale, como que gasto pela água. Tendo em conta a altura média altura das laterais é até bastante largo e grande. Faz lembrar o grand canyon, mas com o Rhone no meio correndo fartas águas em baixo leito e largas margens.

Por aqui ando uns 20 kms sempre à cota numa ciclovia entre a estrada departamental e o rio. Nesta altura podia fazer tudo e pedalar ao mesmo tempo: liguei os fones, comi chocolate, tirei fotos... enfim, aqui não havia trânsito nem buracos!


Muito boa esta altura do dia, também por saber que o traçado original do caminho era recto e apenas subia um monte de uns 500 metros de desnível. Dei a volta ao monte para castigar a bicicleta que até agora não tem tido grande destaque por tão bem se estar a portar! Chego a Sant Genix a aproveito para fazer o meu primeiro levantamento de dinheiro, os 170 euros com que eu saí de Roma deram até aqui, salvo os 25 pelo par de calças novas e 10 francos suíços de compras antes de chegar a Lausanne para lanchar. Incrível não é?

Deste ponto a Valencogne foram uns 10 kms. Um pouco mais elevado por ter deixado o Rhone, vejo à esquerda grandes montanhas que deduzo que sejam os Alpes também, mas os franceses. A chegada a vila foi com uma grande subida e num ponto vi algo bizarro: um homem que parecia voar mas afinal estava apenas a brincar suspenso numa grua e fazer rir aqueles que deviam ser seus filhos. Na povoação a igreja era simples mas diferente no exterior: a parede era feita de argamassa com seixo rolado e no interior encontrei muita informação com pôsters do caminho de Santiago.


Procuro pela direcção que tinha e fui ter mesmo à porta de madame Françoise que dá albergue a peregrinos mas ficou muito espantada comigo. Primeiro porque era o primeiro português a aparecer por aqueles lados com o instinto peregrino e depois por vir de bicicleta! Foi mais uma agradável surpresa do caminho pois a madame Françoise tinha um anexo completo reservado para mim. Depois de alguma conversa muito agradável a tomar um café acabou por me convidar para jantar depois de tomar banho. Muito bom mesmo! Acabámos por ficar até quase à meia noite na conversa e a ver o blog.

Um abraço peregrino,
Samuel Santos!

2 comentários:

  1. Hey Ca va Génial. C' Sébastian: marchadour-msy@hotmail.fr. C'est HISTORIQUE!!!
    Je pars en Bretagne demain.
    A bientôt

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  2. Olá. Eu me pergunto se eu não vou comprar uma bicicleta para acompanhá-lo. Sebastian. A+

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