Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dia 29. Desvio a Lourdes

Quarta 13 de Outubro de 2010.

Hoje abusei um pouco, confesso, mas se o corpo não quis antes a alma respeita...

Eram 9 horas quando abro os olhos e finalmente me levanto, sim, porque já tinha acordado bem antes com uma peregrina que leva a medalha do mais forte ressonar! Ela levantou-se, depois Vivianne também, mas eu só queria dormir.



Vou tomar o pequeno almoço e como estava “preso” àquele local, comecei a trocar histórias com Vivianne. Houve uma que me deixou arrepiado: ela assistiu a um UFF (Undentified Flying Fenomenom – fenómeno voador não identificado). Foi o que eu lhe chamei à história que ela me contou em troca da minha do dia anterior...



Quando vou a reparar o meu relógio marcava 11:00 e tinha que continuar. Despedi-me de toda a gente e com Marie Noel (a hospedeira) fiz um bom negócio: troquei o meu guia de França pelo de Espanha, pois entretanto já me era inútil e no local onde o deixei acredito que seja bem mais utilizado pelos peregrinos. Despedi-me dela mas os seus olhos continuavam a brilhar, Ultreia dizia ela, um dia voltarás ao caminho pensei eu...

Saí de Moissac por uma via à cota de um canal paralelo ao rio Garrone.



Pouco depois o meu guia electrónico manda-me para a estrada, mas podia ter continuado por lá uns 10 kms mais. Na estrada aqui também plana encontro pomares de árvores que deviam ser noivas, pois estavam todas cobertas de um branco véu... Provavelmente para evitar que a queda de granizo estragasse a colheita.

Mais tarde uma fábrica de nuvens, uma central termo-eléctrica ou uma nuclear... aqui o mais certo!



Em Flamarens quando procurava um local para almoçar encontrei ao lado das ruínas da igreja duas mesas, uma já ocupada por uma belga que me convidou a sentar e conversar. No final, quando visito as ruínas, vejo que havia no interior um exclusivo atelier de arte com 2 homens a fazer peças de souvenir. Bem melhor assim que deixar o espaço entregue as ortigas!



Em Castet-Arrouy visitei mais uma igreja, mas esta no interior destacava-se não só pelos quadros em talha na parede mas também pela colecção de diferentes cadeiras que tinha.

Em Lecture iniciei o desvio para Lourdes, bem maior que o de Pisa ou Milão! A partir daqui estou entregue à sorte, pois não tenho quaisquer indicações, mapas, anotações ou dicas sequer... apenas preciso de dormir antes de chegar ao local pretendido. Segui, embora o corpo estivesse a meio gás. Seguem-se Florence e Auch, onde decido procurar sítio no posto de turismo por reparar que a cidade é grande. Logo na entrada encontro um peregrino que ao pescoço trazia um objecto de bijuteria muito utilizado pelos peregrinos, mas na mochila trazia uma concha como se fosse um chocalho, lol! Pergunto-lhe se ele tinha alguma informação porque apenas faltavam 10 minutos para as 18:00 e apercebo-me que ele não fala uma palavra de francês ou inglês nem qualquer outra senão alemão... disse-lhe por gestos que ia ao posto de turismo e despachei-me, pois lá saberiam dizer-me se havia algum acolhimento paroquial ou não. De facto havia! Procurei o velho e nada, mas quando estava à porta do perisbério paroquial ele aparece com outra senhora. Fomos acolhidos e despachei-me para ir às compras.



Como vi na cozinha que havia micro-ondas hoje a ementa era pizza congelada com água de São Martinho do Rhone, aquela especial. Estava a comer e aparece-me o mesmo velho austríaco... 73 anos, meio maluco, a dizer por gestos que tudo estava fechado tal como eu tinha reparado quando voltava. Acabei por meter mais pizzas a fazer e arranjar mais um copo e talheres para a estranha personagem. “-Dank a!” - assim agradeceu ele.

Um abraço peregrino,

Samuel Santos.

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