Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















domingo, 17 de outubro de 2010

Dia 31. Porque estou triste?

Sexta, 15 de Outubro de 2010.


Não ouvi o despertador às 6:30h para ir à missa das 7h, e só acordei às 9h. Fiquei com pena porque tinha muita vontade de ir... o sr. Jean tinha-me dito que era um momento especial por ser na cripta da basílica do santuário.



Tomei o pequeno almoço e fui então conhecer um pouco mais da história do santuário. O local é belíssimo mas o meu sentimento não se enquadra: como peregrino aprecio mais as coisas simples e essenciais e aqui tudo é excessivamente belo e grandioso. Além disso, a contrastar com o silêncio desejado, algumas pessoas demonstram alguma incoerências neste local de culto. Parecia que estavam num parque temático! Eu também já comportei assim, mas só quando estava na Eurodisney... mas felizmente nem todas as pessoas são iguais. Pelo caminho encontrei inúmeros locais onde de joelhos sorri, aqui sinto-me triste.



Numa das igrejas do recinto, enorme mas quase vazia, estava um grupo de jovens a cantar acompanhados de viola e flauta. Aí fiquei um tempo até ficar em paz e só depois continuei a visita ao local.



Ia-me passando vários pensamentos pela cabeça... Estava na dúvida sobre ficar mais uma noite no centro de acolhimento que o colega de quarto me tinha recomendado por ser gratuito e muito bom (o centro Cité San Pierre). Fiz um exame ao meu interior e descobri que talvez fosse bom se não tivesse sido recebido como fui no dia anterior, e tivesse encontrado esse sítio ao acaso. Mas assim não, não me sentia bem aqui e não seria uma noite gratuita num acolhimento de um albergue mais bonito que me faria feliz... Decidi voltar ao albergue onde tinha deixado as coisas, recolher tudo e seguir!

Quando cheguei o sr Jean estava a terminar o seu almoço e conversei um pouco com ele - foi bom este momento para não partir daqui deste local com tanta carga negativa. Afinal de contas aquilo que sentia era comum em mais gente, e daí eu ter aceite o facto como condição típica do local. Ou talvez não fosse o momento certo para mim, tal como pensei mais tarde.

Quando parti de Roma disse a Mercedes que não iria chegar antes da visita do Papa (a 6 de Novembro) mas pelo evoluir do caminho estava a reparar que sim. Se tudo continuar como até aqui chegarei antes dessa data. Mas a confusão que se irá instalar sobre aquela cidade faz-me pensar 2 vezes... se chegar antes escapo-me para Finisterra ou Muxia, logo se verá.

Carreguei tudo e "au revoir" Lourdes, segui numa estrada direcção a Pau e após 30 fáceis kms de cota jusante do rio que divide o santuário virei Gan e aí doeu... sobe e desce constante e muito inclinado... uma hora e 15 kms depois lá consegui chegar ao vale plano que me levou para Oloron a 20 kms).

Quando cheguei já o posto de turismo estava fechado e na igreja não encontrei informação de albergue... solução: já com o sol quase posto fazer outros 20 km até Hôpital Saint-Blaise e aí sim tinha a certeza (por uns folhetos que vi) que tinha onde passar a noite. Aqui também foi plano mas sair de Lourdes às 15h e fazer 88 kms até as 17h deixa-me quase com a noção que Ele também ia a pedalar!

Acabei por chegar e encontrar a pequena aldeia, que deve ter apenas uns 15 edifícios. Vou à igreja que é património da Unesco, e faço uma pequena oração.



Aqui sim sinto-me feliz e de novo no Caminho de Santiago. Encontro uma informação para ligar para um número e bateria no tlm nada... valeram-me as pessoas que me disseram em que porta tinha que bater e lá cheguei ao pequeno, renovado e confortável local que me permitiu descansar uma noite mais.

Engraçado, neste local havia uma máquina de Vending com tudo a bons preços pois por perto não havia comércio.

Um abraço peregrino,

Samuel Santos
 

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