Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















domingo, 3 de outubro de 2010

Dia 18. "Hospice du Grand Sant Bernard"

Sábado, 2 de Outubro de 2010.

Como a hora de deitar foi cedo, a de levantar também pois havia uma oração às 7 horas a que eu queria participar. Após havia música celta para despertar os restantes pois o pequeno-almoço ia ser servido. Fico de novo ao lado dos meus colegas de quarto, Jean e Régis. Enquanto saboreava o delicioso pão integral com manteiga e um doce que não descobri de que frutas era, conversei com eles e descobri que eles estavam a passar a noite pois tinham feito um percurso pela montanha e hoje acabavam o circuito que os levava de volta a casa. Eu estava tão maravilhado com a ideia que lhes perguntei se poderia ir com eles e apanhar o autocarro de volta, ao que me responderam que sim e que numa bifurcação eles seguiriam e eu voltava ao local do início.

Após pedir autorização ao padre Frederic seguimos, pois tal como lhes tinha dito esta peregrinação não é apenas espiritual mas também cultural e a ideia de um percurso nos Alpes era algo brutal, como diria o meu amigo Moura! Trilhos acima as vistas eram únicas, pedras em cinza escuro reluzentes misturadas com terra preta e temperadas com neve! Os trilhos estavam todos marcados e por vezes tinham abismos que fariam qualquer um ter medo, mas nós continuávamos como se nada fosse até chegarmos ao topo. Por ironia do destino, sempre tinha falado nos 2700 metros de altitude e o hospício estava apenas a 2450 mas com esta caminhada alcancei esse nível!



Aqui avistavam-se muitos mais picos abaixo que acima, estava maravilhado com este enorme panorama! Tirei umas fotos e começamos a descida do lado oposto, este bem mais difícil, na sombra, com mais neve e trilhos mais estreitos e inclinados até chegar a um vale.


Descemos aos 2000 metros onde comemos algo e nos separámos: eu para voltar ao local de partida e eles por outras montanhas. Obrigado Régis e obrigado Jean, os meus amigos guias dos Alpes! Voltei ao hospício pela estrada milenar romana melhorada pelo Napoleão Bonaparte e só quando cheguei é que reparei que ao invés de fazer uma caminhada de recuperação tinha feito um pesado exercício mas estava de alma cheia. Falei com Frederic e como estava indeciso entre partir ou ficar (uma vez que já eram 14 horas) acabei por me sentir acolhido por mais um dia e fiquei neste local onde não só se adora a Deus mas também se nutre seus seguidores - esse é um dos lemas da ordem de Sant Bernard. Aqui os monges que vivem em contacto permanente com o mundo exterior mas oferecem a vida pela adoração a Deus e pelo acolhimento de todos, seguindo o exemplo do seu fundador que vivia de acordo com Santo Agostinho que pregou o evangelho no século 4.

Visitei o seu maravilhoso tesouro que tem objectos do próprio Sant Bernard, para além de outros em ouro decorativos e artísticos, um tesouro digno da obra do seu fundador. Passei o resto do dia reflectindo e dando graças ao Senhor por me ter permitido subir à montanha para descer ao fundo da minha alma.

Como colegas de quarto, uma família de férias com quem jantei e partilhei experiências, juntamente com outro casal. Ele era escultor e tinha feito várias peças oferecidas à ordem entre mais pessoas.

O site do hospício pode ser visto em www.gsbernard.net. Visitem, vale a pena!
O descanso veio depois...

Um abraço,

Samuel Santos.

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