Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dia 27. Castanhas com vinho!

Dia 27. Castanhas com vinho!

Segunda, 11 de Outubro de 2010.

Cedo voltei áquele palco mágico em Conques para desta vez participar em mais uma missa de benção aos peregrinos. Na hora de partir a chuva miúdinha que caia não parava...Tive que me decidir a vestir o impermeável e seguir.






Para começar desço ao fim do vale a 270 metros, passo uma ponte romana muito antiga e estreita. Vi um carro a vir na direção dela para a atravessar e juro que pensei não ia caber, provavelmente até era proibido, mas não sei como lá conseguiu passar.



Pela subida até aos 600 metros novamente encontro mais um cenário coberto de castanheiros, o chão repleto de ouriços. Reparo na discreta graciosidade da natureza: os aguçados espinhos apenas se abrem quando a castanha está madura.

No alto visito uma pequena e solitária capela e faço uma oração em voz alta, sabendo que até quando vou em silêncio pelo caminho Ele me escuta e acompanha. Aqui a vista é rural e bastante verde e seria bem melhor caso não chovesse, mas mesmo assim o caminho só se faz caminhando, e assim vou progredindo.

Volto ao vale do lot, o caminho aqui anda às voltar mas já percebi que este rio me vai acompanhar por um tempo. Recordo-me de uma vila que não falei antes, Estaing que tinha na entrada uma placa a dizer "Uma das mais belas vilas de França". Vejam as fotos e deêm-me a vossa opinião.



Sigo pelo Lot e vou até Figeac onde chego com 50 km às 13:30. Vi um posto de macD...lds wifi e como eram horas do vitaminico pensei em comprar 3 euro burgers. Infelizmente aqui não havia essa promoção, acabei por usar a net e ir as comprar no "super barato" ao lado: iogurte com muesli e pão com presunto, vitaminha e proteína, he he.

Olho para o guia e decido ir até Cajarc pois aí só faltavam 25 km e era melhor tomar um banho quente para não adoecer. Só nessa altura a chuva deu tréguas mas ao chegar à vila escolhida algo trespassou o pneu e a câmera - parecia que um chuveiro de líquido anti-furo saltava da roda traseira... mesmo assim deu para chegar à igreja e procurar onde dormir. Tudo tem acontecido por alguma razão e eu aceitei aquele problema como um sinal para ficar nessa vila (afinal de contas apenas tinha 75 km, eram 16:30 e já estava seco... em condições normais teria continuado).

Tento reparar a câmera mas o furo era demasiado grande e por isso ao fim de 2 tentativas decido trocar pela suplente... O problema é que de tanto roçar no alforge as arestas do novelo que ela fazia estavam gastas... e rota! Ok, pensei eu, vou ao supermecado e compro outra... Não tinham! E na estação de serviço só tinham remendos! Estava perdido... Mesmo assim pensei em remendar os muitos furos da outra, caso outro plano estranho que eu estava a pensar não funcionasse. Dei entrada no albergue e decidi deixar a resolução para depois. Fui tratar-me com o quente banho para não apanhar nenhuma gripe e cortar as castanhas que trazia à dois dias para as meter num tacho com sal a assar. Para acompanhar vinho do supermercado, uma garrafa de água do "Rhone" (eh eh) com pão, presunto e mel. Que grande misturada, não? Certo é que a garrafa foi junto com as muitas, e repito, muitas castanhas fazendo este um jantar bem "sui generis".

O plano secreto veio depois... Como eu conheço um pouco de França não apenas pela experiência de motorista mas também pelas histórias do meu pai, sei que por aqui há pontos de recolha de resíduos para reciclagem e eu tinha visto um antes do furo. Pego em ferramenta e lá fui eu, a cambalear aos S's "tintos" à procura adivinhem de quê...

Após uns 3 kms na escuridão total chego ao espaço vedado e salto o portão, vou à zona de ferro velho e como se esperasse por mim uma velha bike com um dos pneu com pressão. Tiro-lhe o que precisava e volto a sair. Digo isto porque não foi um roubo, apenas me desenrasquei e evitei que uma câmara de ar fosse para a reciclagem quando ainda tinha muitos kms pela frente.

Quando salto o portão estava a chover um pouco mas olhando para o céu por cima de mim estava descoberto... Devia vir com o vento pois parou pouco depois, até que... uau!!! um clarão enorme na zona do triângulo de verão formado por Altair, Deneb e Vega, chama-me a atenção e vejo a maior estrela cadente de sempre em luminosidade! Não fez um risco longo mas sim carregado e como que se fosse desintegrando para os lados... mais um momento mágico! Fico ali de câmara de ar na não olhando o céu completamente apático...

Um abraço peregrino,

Samuel Santos!

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