Amir Klink

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou TV. Precisa de viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink















segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia 25. Vento violento!

Hoje (tal como ontem) participei na missa dos peregrinos às 7 da manhã. Desta vez aprendi algo mais, talvez por ter prestado mais atenção. Le Puy é local de início de peregrinação desde o 10º século, pois perto do ano 950 está descrito nos registos de peregrinos em Santiago de Compostela. Todos os dias saem deste ponto gente de todas as nações: nestes 2 dias conheci gente da Alemanha, Canadá, Suíça, Quebec, Hungria, Noruega, Itália, Austrália, República Checa e naturalmente também de França. Mais tempo ficasse mais gente conheceria. No final da missa, a bênção diante da estátua de Santiago.




Voltei ao albergue e enquanto me despedia de Lucy, Rita e Alfred vi um guia do caminho e fiz uma pequena pesquisa. Reparei que os preços disparavam de uma localidade para outra e decidi ir à sacristia para comprar um, pois numa noite num sítio caro gastava mais que o preço do guia. Como a sacristia estava fechada e só abria meia hora depois aproveitei para fazer uma alteração que à muito andava a prever: os travões da bike não estavam a funcionar nada de jeito e puxando pelos princípios básicos da física vi que talvez estivesse a afinar mal. Troquei tudo e… uau, funcionou! Comprei o guia e segui marcha. Uns kms mais à frente encontro um casal de noruegueses por quem eu tiro o chapéu: deviam ter à volta de 65 anos e lá iam eles de mochila às costas... adoro a maneira de viver e pensar dos países nórdicos!

Como os trilhos estavam muito duros voltei-me para as estradas e, meu Deus, sem a protecção das árvores qualquer recta era pior que subir... ui! Esta etapa estava cheia de subidas contra o vento. Ora vejam: no total do dia (à semelhança de quinta-feira) fiz 100kms. De Le Puy a 650 metros fui aos 1150, voltei aos 600, de novo aos 1300 e terminei nos 1000, sem contar com as subidas de 100 e 200 metros. Isto só para verem a irregularidade do terreno e perceberem porque é que eu até aqui tenho dito às vezes que a etapa é fácil e esta não...

Bem, voltando, depois de muito esforço lá parei para a merecida refeição e aqui gastei a última lata de conserva oferecida pelo padre Olivier de Lausanne. Depois, enquanto estava a escrever algo, aparece-me Michael, o rapaz alemão que me levou ao albergue e que saiu um dia antes de mim. He he, alegria! Um grande abraço logo, porque por acaso fazia questão de o encontrar. Houve logo chocolate aberto e tudo! Falámos um pouco, ele do modo de viajar e dos 15 kg que perdeu desde que começou. Ao que parece, se eu me privo de luxos ele (embora aparente muito bem) priva-se ainda mais. Trás consigo uma tenda e dorme maior parte das vezes na rua, lava a “casa” nos fontanários e a roupa nos rios, enfim, mesmo no limite das necessidades. Cinco estrelas mesmo! Quem sabe não vá com ele à América doSul fazer uma travessia também!

Continuei e o céu tapou. Como tinha estado algum tempo na conversa e queria compensar fui rápido por caminhos, alguns de terra com os alforges sempre a quererem saltar fora. Valeu uma segurança que lhes criei, se não andavam sempre a rebolar. Também me lembrei da pintura de ontem, acho que vou comprar uma aguarela e dar um jeito naquilo. Qualquer pessoa se treinar algo melhora e pode ser que resulte... Enquanto isto tudo era o vento sempre a travar onde não havia árvores. Lembrei-me que hoje tinha visto o primeiro parque eólico desde que saí de casa... curioso, Itália não tinha um único!

Acabei o dia em Aumont-Aubrac. Como faltava apenas meia hora para fechar o supermercado fui rápido arranjar onde dormir. Quando voltei às compras parei na igreja e acho que vi a surpresa que Deus tinha para mim: um senhor perguntou-me se já tinha onde dormir e só mais tarde (no Gite onde paguei 12 euros) é que vi no guia como funcionavam os alberges e que aqui havia um...

O jantar foi uma deliciosa mistura que saiu óptima: pasta cozida com uma sopa instantânea de tomate com um decilitro de leite, salsichas e ervilhas com cenoura. Uma delícia mesmo!

Um abraço peregrino,
Samuel Santos!

1 comentário:

  1. Oi, que aventura, sr peregrino. Força e continua a pedalar. Um "Até Já"
    bety

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